sábado, 28 de janeiro de 2012

POESIA E ESTÁTUA A PROPÓSITO...

ANTONIO ALEIXO

Estátua de António Aleixo em Loulé /Portugal 

Considerado um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.

No emaranhado de uma vida cheia de pobreza, mudanças de emprego, emigração, tragédias familiares e doenças na sua figura de homem humilde e simples, havia o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, guarda de polícia e servente de pedreiro, trabalho este que, como emigrante foi exercido em França.

De regresso ao seu país natal, estabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, actividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de "poeta-cauteleiro".

Faleceu por conta de uma tuberculose, em 16 de Novembro de 1949, doença que tempos antes havia também vitimado uma de suas filhas.

Um poeta  poupador em palavras mas muito certas.

Cada palavra dele vale uma folha dos que usam a poesia a metro.

VEJA A SEGUIR CINCO DE SUAS QUADRAS, ALÉM DE MUITAS OUTRAS DE SUA AUTORIA:


Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.

António Aleixo é sem dúvida nenhuma um poeta que extravasa em muito a restrição que o cataloga como poeta popular. É talvez um dos grandes poetas do século passado pela jactância, pela sua capacidade de improviso e pela sua visão do mundo que, nesta curva do milénio, continua a ser o mesmo. Neste sentido está ao mesmo nível de dois outros grandes poetas que com uma cultura mais erudita, também se distinguem nesse aspecto: o Fernando Pessoa e o Vitorino Nemésio. Efectivamente, graças a um intelecto poderoso, António Aleixo conseguiu trabalhar as palavras ultrapassando a sua formação académica bastante rudimentar e as múltiplas limitações da sua saúde vacilante.

Um comentário:

Manuel Tomaz disse...

De António Aleixo,sempre me lembro
desta:

Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço

M.Tomaz